DORIA, LEITE, TASSO E VIRGÍLIO SE INSCREVEM NAS PRÉVIAS PRESIDENCIAIS DO PSDB

Por Agência O Globo

As prévias que vão indicar um candidato do PSDB ao Planalto em 2022 começaram oficialmente nesta segunda-feira em meio a uma disputa acirrada entre os governadores João Doria e Eduardo Leite.

Ao todo, quatro candidatos fizeram a inscrição no processo interno: Doria, Leite, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o ex-senador e ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio (PSDB-AM). As campanhas dos dois últimos até agora, porém, se restringem a movimentos internos e eles têm sinalizado simpatia a Leite.

O primeiro a anunciar a participação nas primárias nesta manhã foi o governador de São Paulo, na sede do partido em Brasília. Doria disse que o PSDB terá “naturalmente o candidato da terceira via”.

— O candidato vencedor das prévias do PSDB será naturalmente um candidato da terceira via. Ou melhor: um candidato da melhor via. Porque estará legitimado pelas prévias —  discursou Doria.

Apesar das confusões e desavenças entre tucanos registradas nas últimas prévias das quais participou, tanto para o governo de São Paulo como para a prefeitura da capital paulista, Doria disse que iria trilhar um caminho de tranquilidade e manteve a estratégia de não atacar os adversários publicamente.

— E agora disputando com outros três competentes, sérios, e eu classificaria como brilhantes representantes do PSDB: Tasso Jereissati; Arthur Virgílio, um dos melhores tribunos que já vi; e o jovem e competente governador Eduardo Leite.

Nos bastidores, a expectativa é que adversários se unam contra o governador de São Paulo, o que já foi sugerido pelo senador Tasso. Desde que começou a se movimentar para se colocar como presidenciável, Doria colecionou desavenças e sofre com isolamento interno. Ainda assim, o paulista conseguiu quebrar resistências e obteve apoio em estados como Acre e Pará, onde os redutos dos tucanos sofrem pressão de eleitorado do presidente Jair Bolsonaro, inimigo do paulista. Ao mesmo tempo,  Leite equilibrou a disputa com endosso do diretório de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral tucano nas primárias. O deputado mineiro Aécio Neves é adversário de Doria e tem trabalhado ativamente para a campanha do gaúcho. Em ato em Brasília nesta terça-feira, Leite espera anunciar o apoio do diretório de Santa Catarina.

Nas últimas semanas, o clima entre os candidatos esquentou, com direito a troca de acusações entre aliados e a reviravolta nos apoios dos diretórios. No sábado, Doria conseguiu o apoio no sábado da ex-governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius, presidente nacional do PSDB Mulher e desafeto de Leite. Num contra-ataque, Leite reverteu no mesmo dia o apoio do diretório tucano do Paraná, que antes já havia declarado que estava com Doria

Internamente, Leite tenta se apresentar com um candidato conciliador e com capacidade de diálogo com setores do partido que flertam com o bolsonarismo e de fazer alianças com partidos como o DEM nacional, que hoje está estremecido com Doria. Embora enfrente obstáculos, o paulista tem um ativo que nenhum outro candidato na disputa dispõe: a vacina coronavac contra a Covid-19.

Apesar do favoritismo de São Paulo, que tem maioria no colégio eleitoral tucano e o peso da máquina do estado mais rico do país, o gaúcho se diz apto a vencer.

“Me vejo preparado não só para enfrentar, mas para vencer as prévias e, depois, as eleições. Não só pela minha capacidade, mas pela capacidade das inúmeras pessoas que compartilham do mesmo sentimento que eu: é hora de superar a politica do ‘uns contra os outros’ e partir para o todos contra os problemas do Brasil”, escreveu Leite ao GLOBO por mensagem de texto.

Procurado, Tasso preferiu não comentar. O ex-senador Arthur Virgilio, por sua vez, disse que pretende viajar todos os estados e participar dos debates internos:

— Pretendo correr todos os estados do país e dar recados fortes ao partido. Temos que tratar da questão econômica e lembrar dos legados que o partido deu ao país, com controle inflacionário e responsabilidade fiscal. Também não pode faltar a questão ambiental. Um dos focos da minha campanha será a defesa da Amazônia – disse Virgílio.

Para o presidente do PSDB, Bruno Araújo, as prévias marcam uma etapa mais democrática da escolha de lideranças na política nacional, cuja decisão passa a ser tomada por diferentes grupos do partido.

— É o movimento mais robusto de democracia interna na história dos Partidos Políticos no Brasil. O vencedor vai sair fortemente legitimado para se viabilizar no diálogo com todo o centro político — disse Araújo, que participou do ato com Doria em Brasília.

Ao lado do presidente do partido, Doria leu uma carta sobre sua postulação e fez uma análise do processo político com uma série de críticas indiretas, tanto aos governos do PT quanto ao atual presidente Jair Bolsonaro. Doria tratou, sem citar Bolsonaro, das pautas de protestos antidemocráticos incentivados pelo Palácio do Planalto.

— Os tempos são de retrocesso. Retrocesso institucional, democrático, econômico, ambiental, social, político e moral. Nossas instituições têm sido atacadas, mas dão provas de independência e coragem ao defenderem o que temos de mais sagrado: respeito à Constituição, ao Estado Democrático de Direito, com eleições livres, diretas e com voto eletrônico – discursou.

Sobre petistas, tratou dos escândalos de corrupção que se seguiram nos anos de realização da Operação Lava-Jato.

— Infelizmente, os anos que se seguiram com os governos de Lula e Dilma representaram a captura do Estado pelo maior esquema de corrupção do qual se tem notícia na História do País. Fazer políticas públicas para os mais pobres não dá direito, a quem quer que seja, de roubar o dinheiro público. Os fins não justificam os meios.

No documento, Doria termina sua mensagem defendendo a harmonia entre poderes e afirmando que é preciso resgatar o prestígio internacional do país e o “orgulho” de ser brasileiro.

— Acredito no PSDB, o partido do Plano Real e da Vacina, e acredito no Brasil. No PSDB da vitória. Unidos venceremos a corrupção e a incompetência. Venceremos as trevas e o negacionismo. Vamos juntos unir o Brasil e os brasileiros.

O governador de São Paulo larga em vantagem na disputa das prévias, segundo análise da composição dos integrantes do colégio eleitoral tucano. Isso se deve ao peso que o estado de São Paulo tem nos quatro grupos que podem votar na eleição interna, de acordo com regras aprovadas pela direção da legenda.

Segundo essas normas, os votantes das prévias tucanas serão divididos em quatro grupos e cada um deles terá participação de 25% na apuração final. Fazem parte da divisão: filiados (grupo 1); prefeitos e vice-prefeitos (grupo 2); vereadores, deputados estaduais e distritais (grupo 3); e governadores, vice-governadores, senadores, deputados federais, presidente e ex-presidentes da executiva nacional (grupo 4).

Para vencer as prévias, são necessários mais de 50% dos votos. Se todos os representantes de São Paulo, em cada um dos grupos, votassem no mesmo candidato, o estado teria 24,2% de presença no colégio eleitoral. Os outros três concorrentes de Doria largam de patamares menores num cenário em que também contem com a adesão de todos os seus conterrâneos. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ficaria com 5,6% dos votos neste panorama. O senador Tasso Jereissati (CE) teria 3,2%, enquanto o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio apareceria com 1,1%.