POBREZA DE VERGONHA, VERGONHA DA POBREZA

Por Magno Martins

O Imds (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social), entidade fundada e financiada pelo economista Armínio Fraga, acaba de divulgar um importante estudo sobre a pobreza no Brasil. Para tristeza geral, revelou-se que 47,3 milhões de brasileiros terminaram o ano passado na pobreza. Isto equivale a 22,3% do total da população brasileira, o maior percentual em dez anos.

Isso é ainda mais triste porque o Brasil vinha melhorando de maneira expressiva a distribuição de renda e a redução da pobreza. Erros de políticas públicas e o surgimento da pandemia reverteram essa aparente tendência positiva. Quando olhamos os dados com cuidado, nota-se que a piora foi generalizada. Praticamente 11 milhões de brasileiros caíram na pobreza em 2021. É como se Pernambuco inteiro e mais dois estados de Roraima fossem jogados na pobreza em um único ano.

E, o ainda mais grave: mais de 6,3 milhões caíram para a extrema pobreza, o que equivale a mais do que a população combinada de cinco estados, Roraima, Amapá, Acre, Tocantins e Rondônia. Assim, agora em 2022 o País se depara com mais de 20 milhões de brasileiros na condição de extrema pobreza, equivalente à população de 10 estados, duas vezes a população de Portugal passando fome, exatamente num País, o Brasil, que é o maior exportador de alimentos do planeta.

O mais grave é que os brasileiros do futuro, com idades de zero a 17 anos, estão entre os mais atingidos e sacrificados. A pobreza infantil destrói o futuro de 19 milhões de crianças e adolescentes em 2022, o que significa mais de um terço deste contingente populacional. É verdade que a pobreza atingiu o Brasil inteiro, em todos os segmentos.

No entanto, quem mais sofreu e continua a sofrer é a população negra, 73% do total de quem foi jogada na pobreza e na miséria. Outra revelação é que tudo se concentra nas regiões e estados mais pobres, sobretudo do Nordeste. Assim, aumentam as desigualdades regionais no Brasil. Ou seja, o Nordeste representa 27% da população brasileira, porém pagou com 50% de todos os que caíram na pobreza em 2021, 5,5 milhões.

O Nordeste detém, agora, 22,8 milhões de pobres, praticamente 40% de todos os pobres do Brasil. Essa desigualdade é insustentável, anti-humana, anticristã. Brasileiro algum poderia passar fome, enquanto alimentamos 1,4 bilhão de chineses e outros contingentes imensos mundo afora. Não, isso tem que acabar, e logo.

Amanhã, comento o caso específico de Pernambuco.

Recife nas piores – O estudo mostrou ainda que a percepção da miséria cresceu em quase todas as capitais contempladas na pesquisa. O índice leva em consideração aspectos como a taxa de desemprego e a inflação. As capitais com o pior desempenho foram Salvador, Recife e Aracaju. Os melhores índices estão em capitais de estados mais industrializados, porém com indicativos que pioraram durante o ano. Apesar do desemprego mais baixo, Curitiba e Porto Alegre, as melhores do País, tiveram a percepção da miséria aumentada por conta da subida da inflação.