O MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO E AS TENDÊNCIAS GLOBAIS

Consultor empresarial e professor da Faculdade Nova Roma comenta a chegada de discussões sobre redução dos dias de trabalho e modelo de jornada

A chegada de uma jornada de trabalho com quatro dias em países como Irlanda, Estados Unidos, Austrália, entre outros, ainda não chegou ao Brasil. Mas movimentos como esse, que questionam o atual modelo de trabalho, já começam a ganhar discussão na economia brasileira.

“Historicamente, fomos doutrinados a entender e aceitar que o funcionário deveria cumprir um conjunto de horas onde desenvolveria suas atividades laborais ou para a organização estar disponível”, relembra o consultor empresarial, head trainer e professor da Faculdade Nova Roma, Gilson Feitosa. A lei a que ele se refere é a Jornada de Trabalho, lei instituída em 1932 na gestão de Getúlio Vargas. De acordo com ela, o funcionário deve trabalhar oito horas por dia, tendo 12 horas como limite.

Ainda é esse o modelo de trabalho mais implementado no Brasil, que considera o tempo de jornada como fator primordial de contratação. No entanto, a experiência dos últimos dois anos, com a pandemia, isolamento e home office, o cenário começa a se ampliar.  “O contexto atual é bem diferente porque empregadores e funcionários estão repensando a medida absoluta de tempo como elemento de referência para os contratos de trabalho. O foco não está mais na quantidade de horas trabalhadas e sim na produtividade”, explica.

De acordo com ele, a tecnologia, que permitiu a integração, acesso e acompanhamento de trabalho, foi fundamental para a percepção de que o funcionário pode realizar sua atividade de qualquer lugar. “Ele pode até ser tão ou mais produtivo trabalhando confortavelmente em sua casa. Muitas vezes, sem o stress causado por um ambiente de trabalho corrosivo ou pela relação entre membros da equipe nem sempre equilibradas”, elenca.

O home office, inclusive, tem sido fator decisivo em alguns mercados. Os Estados Unidos, por exemplo, vêm sentindo o aumento de pedidos de demissão por pessoas que preferem trabalhar de casa. “Pesam na decisão elementos relacionados com a qualidade de vida, como uma maior convivência com a família, o menor gasto de tempo para ir e vir do trabalho, redução de custos, etc”, enumera Gilson.

Apesar de o Brasil ainda estar em fase de reflexão sobre isso, já há um ambiente se formando. Algumas empresas já têm ou migram para uma cultura mais fluída e voltada para resultados do que para o tempo de serviço. “A lei aqui no Brasil alterou as formas de contratação, permitindo uma relação entre partes focada em projetos e resultados. Com prazos de validade, mas, que muitas vezes não definem explicitamente a carga diária de horas de trabalho”, conta.