RECIFE TEM A MAIOR POBREZA DO PAÍS

Jornal do Commercio/Magno Martins

Ter uma renda certa não é mais a garantia de que o dinheiro é suficiente para manter uma vida digna. O cenário devastador no bolso da população se espalha por todo o Brasil e ganha contornos ainda mais dramáticos no Recife. Em 2021, R$ 1.378 era a renda média dos brasileiros que vivem nas maiores cidades do País. Isso quer dizer que cerca de 40% da população (80 milhões de pessoas) está vivendo com o pior rendimento médio dos últimos dez anos.

Na Região Metropolitana do Recife, a renda média passou a ser a terceira pior dentre as metrópoles brasileiras: R$ 831,66. No recorte dos mais pobres, é aqui onde a situação de vulnerabilidade mostra-se ainda pior. Já que o Grande Recife detém o título de metrópole onde os mais pobres têm o pior rendimento do País.

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O impacto do período mais intenso da pandemia de covid-19 na renda dos brasileiros foi mensurado pelo Boletim Desigualdade das Metrópoles, do Observatório das Metrópoles em parceria com a PUC do Rio Grande do Sul.

Segundo os dados levantados, a renda média per capita do trabalho dos 40% mais pobres, que estava em R$ 195 no quarto trimestre de 2020, subiu para R$ 239 no quarto trimestre de 2021. Ao mesmo tempo em que a renda dos 10% mais ricos caiu de R$ 6.917 em 2020 para R$ 6.424 em 2021 na média das metrópoles do País.

Mesmo com a recuperação dos mais pobres, o boletim aponta que essa parcela da população não conseguiu recuperar o patamar de renda do começo de 2020. Hoje, seus rendimentos médios ainda são 8,9% menores em relação ao patamar imediatamente anterior à pandemia.

De acordo com o coordenador do estudo, o professor da PUCRS Andre Salata, os mais pobres perderam aproximadamente um terço da renda, mas os mais ricos não perderam, no primeiro ano pandêmico. O quadro, no entanto, muda ao fim de 2021, já que os mais pobres conseguiram espaço para, mesmo que de forma informal, incrementar a renda.

“Os segmentos mais baixos foram os mais atingidos, porém, a possibilidade de se reincorporar ao mercado de trabalho em atividades informais é mais fácil do que na atividade formal. A possibilidade de montar uma banca de camelô, que é uma prestação de serviços onde não existe contratação de trabalho formal, é muito diferente do contrato que um trabalho com carteira assinada exige”, relatou Ribeiro.

Ainda assim, no Recife a facilidade para melhorar a renda parece não ter sido encontrada pelos mais pobres. O boletim mostra que na região metropolitana da capital pernambucana, os 40% mais pobres possuem o pior rendimento do País na comparação com as demais metrópoles.

 Embora as cidades do Nordeste, historicamente defasadas no quesito renda em relação às cidades das demais regiões, estejam majoritariamente encabeçando a lista, o Grande Recife é posto na pior situação, com rendimento médio de R$ 104, 46, atrás de metrópoles como João Pessoa (R$ 104,97), Salvador (R$ 127,64), Natal (R$ 128,39) e Teresina (R$ 141,65).

“Recife, assim como as demais capitais do Nordeste, tem sua economia baseada em serviços, que foram os primeiros afetados pela pandemia, parando as atividades e retomando por último pelo mesmo com a mesma intensidade anterior à pandemia. Cidades com essas características têm realmente maior dificuldade de recuperação econômica”, justifica o doutor em Economia e professor da Faculdade Nova Roma, Antonio Carvalho.

No Recife, a renda média dos mais pobres passou de R$ 155 no quarto trimestre de 2019 para R$ 91 no mesmo período de 2020, chegando aos R$ 104 no quarto trimestre de 2021. A renda dos 10% mais ricos ficou em R$ 4.155 no último trimestre do ano passado, enquanto os 50% intermediários apresentaram no mesmo período renda média de R$ 764.

Em todos os estratos, o dinheiro encolheu ao longo dos últimos três anos. Mas os mais pobres foram os que tiveram a maior queda quando comparado com o rendimento de 2019 e 2021: – 33%. Os mais ricos acompanharam uma redução de 22% na renda, enquanto a população na faixa intermediária, – 20%.

De 2019 a 2021, a razão entre os rendimentos foi de 51,7 no Grande Recife, denotando o avanço da desigualdade de renda e colocando a região atrás apenas de João Pessoa nesse quesito. Mesma posição ocupada quando levado em conta apenas o total de pessoas vivendo em domicílios com renda de ¼ do salário mínimo, já que o grande Recife manteve ao fim de 2021 a segunda maior taxa do País: 39,8%.

“O elevado grau de informalidade da atividade econômica no Nordeste faz com que existam muitas famílias desenvolvendo atividades informais ou pequenos negócios cujo grau de informalidade, com geração de emprego e renda para essas pessoas ainda é baixo. Isso contribuiu para que tenhamos ainda uma renda per capita, somada às características de emprego, muito baixa”, aponta Carvalho.